8.3.19

Sinto muito por sentir tanto


        Toda vez que quero escrever sobre você, eu coloco a mesma música. Acho que nem preciso dizer qual é, porque você deve saber bem. Quando quero fazer doer mais, lembro daquela madrugada, dos nossos corpos colados no escuro e Cartola tocando ao fundo, enquanto você me apresentava seus personagens preferidos e, vez ou outra, beijava o canto do meu pescoço – aquele lá, onde o cheiro de ninguém é igual ao de ninguém no mundo.
            Lembro disso e a saudade dói e quase sufoca.
          Lembro do ano novo, de você dizendo o que eu era pra você. Da gente se beijando depois da meia noite, de eu te entregando os potes da minha mãe – e hoje tenho certeza de que eles nunca vão voltar. Assim como você: também tenho certeza de que você não volta mais.
           Você nunca foi meu. Eu sempre fui sua. Do topo da cabeça ao dedinho do pé, desde aquele dia 22, eu sempre fui sua. Lembro da gente encostado no muro, do medo de acordar quem dormia, rindo e com a certeza de que no mundo só existíamos nós dois. Ninguém mais importava. A gente mal se conhecia e eu não tinha ideia de quanto tempo deveria reservar pra nós. Achei que seriam duas semanas, no máximo três. Jamais imaginei que duraríamos no novo ano.
          Olho a flor amassada colada com durex no meu caderno, a data meio apagada no canto, e quero sair correndo. Ir até sua casa, pelo caminho que tanto amei fazer durante todos os nossos dias, te ver abrindo o portão e te abraçar e pedir para nunca mais me deixar ir embora. Quero ficar. Quero me aninhar em você na sua cama gigante, quero me sentir escondida ali, naquele mundo de nós dois.
          Lembro das vezes que acordei embriagada de você, depois de uma madrugada toda ouvindo tua voz. Penso nas minhas piadas bobas que só você dava risada, penso nas suas piadas que você contava todos os dias. Penso em nós.
          O dia inteiro, eu penso em nós. Ontem lotei minha cabeça de qualquer coisa do mundo, só para não pensar na gente. Fiz força, engoli as lágrimas, disse que por você nunca mais choraria. 
          Inocência minha. 
          Minha mente te trouxe de volta em sonho e hoje escrevo para tentar reviver o que ainda tenho de você em mim. Queria te eternizar de qualquer forma, esquecer as palavras duras, as coisas que doeram. Guardar em mim os nossos momentos bons, os momentos que eu pensei que nunca iria querer deixar sua casa – e você. Os momentos que você olhava pra mim e dizia o quanto eu era bonita, os momentos em que eu me declarei baixinho enquanto você dormia, porque não tinha coragem de me rasgar por inteira e te contar que dentro de mim só tinha você.
Queria voltar para quando eu ainda não sentia tanto, porque hoje, meu bem, eu sinto muito.

- Em tenebris

23.11.18

Time is gone



                Depois de tantos meses, pela primeira vez me permiti sentir sua falta. A data marcada no calendário me incomodou e me fez enxergar que o tempo, tão rapidamente, passou. Pergunto-me se você também se lembrou, se pensou em mim, se pensou em nós.
                Eu estava montando a árvore de Natal, ouvindo as mesmas músicas natalinas de sempre, neste dia do ano que eu tanto amo... E, que tanto amei dividir com você durante todos os nossos dias. Enrolada em meio às fitas, enfeites e luzes, querido, pensei em nós. Em mim. Em um ano antes e em como minha cabeça viajava além pensando no dia que faríamos isso juntos, em nossa casa, com nossos filhos e um cachorro – porque era o número máximo de animais que você aceitava ter. Perdi-me em pensamentos e senti o peito apertar, pela primeira vez depois de tantos meses.
Pergunto-me se você também lembrou. Ou, se algo na rua te fez lembrar, talvez durante a semana ou em qualquer outro momento, que hoje éramos para estar felizes, comemorando e prometendo. Fazendo planos para o ano que viria. Nossa promessa era sempre nós, você ainda se lembra?
          Pergunto-me se em todos os sábados você também sente vontade de voltar naquele restaurante, mas desiste ao lembrar que só íamos juntos. Penso se você ainda se lembra dos pequenos detalhes, das vezes que lavamos louça juntos numa tarde de domingo, nos sujamos com a espuma e nos beijamos depois, rindo. Das vezes que dormimos abraçados no sofá, das vezes que chorei ao te contar qualquer coisa – porque eu sempre pude te contar qualquer coisa. Queria saber se você sente saudades do Zeca, se pensa na minha avó, se eu ainda sou mencionada nos almoços de família.
           Depois de meses, pela primeira vez me permiti sentir sua falta.  
          Coloquei para tocar aquela música que eu sempre disse ser nossa, e que você sempre insistiu que não era. Sendo ou não sendo, ela sempre me fez pensar em você.  
Mesmo depois de três anos, eu ainda consigo te ver cantando as letras dela pela primeira vez pra mim, naquele telhado, com aquelas pessoas. O escuro da noite caindo sobre nós e a certeza de que eu tanto te amava pesando em meus ombros.
            Depois de tantos meses, pela primeira vez chorei por nós.
           Chorei por perceber o que nos tornamos. Quem nós éramos, e como o nosso nós tão facilmente se foi.
          Sempre pensei que fosse passar o resto da minha vida ao teu lado – viver sem ti nunca fez parte dos meus planos. Tá... Tudo bem, hoje enxergo o quanto sei andar com minhas próprias pernas, mas a árvore montada e a certeza do primeiro Natal sem você depois de tanto tempo... Os acordes daquela música... Simplesmente me fizeram sentir sua falta. Pela primeira vez em meses quis sair correndo até você, te abraçar e te pedir desculpas. Desculpas pelas coisas que nunca fiz, e pelas que eu fiz também.
         Não sei se está bem, se está saindo, vivendo... Não sei se está feliz, triste, cansado. Não sei mais nada de ti, assim como você não sabe mais nada de mim. E, de alguma forma, isto me incomoda. Às vezes queria poder te contar do meu dia, só por contar. Pela força do hábito. Pelo respeito a quem éramos, pelo respeito a quanto eu te amei.
          Pela primeira vez senti sua falta, mas enxerguei que estamos do jeito que devemos estar. Voltei a ser quem sempre fui, e eu espero muito que você esteja satisfeito com quem você é agora. Estamos bem assim, eu aqui e você aí, mas sempre carregarei um pedaço seu, assim como sei que você carrega um meu também.
           Feliz Natal, espero que você esteja bem.
           Eu estou.

- Em Tenebris

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