Ao
contrário do que você e os outros pensam, esse tempo todo eu não me declarei
como queria ter me declarado. Não me joguei em teus braços e não pedi que se
jogasse nos meus. Por todos esses dias eu me declarei nas palavras que não
escrevi, nas frases que não disse, nas demonstrações de afeto que guardei. Tentei
ao máximo esconder meus sentimentos e obviamente não consegui. Eu sei que já
disse 187,3 vezes que eu iria embora, que eu ia matar esse amor dentro de mim,
que tinha acabado, que eu ia partir pra outra, mas dessa vez é de verdade, eu
juro!
Dessa vez é diferente.
Eu precisava de um sim, ou de um não. De
uma motivação pra insistir em você ou de um fato para desistir de você. Pois
então, eu pedi, não pedi? E nós devemos ter cuidado com o que desejamos, sei
bem disso. Minha resposta chegou. Meu “não” estava ai estampado pra quem
quisesse ver, e eu não enxergava. Mas acabou. Eu enfim enxerguei aquilo que há
tanto tempo eu fingia que não ver.
Eu me suicidei um pouco a cada dia de
todos esses meses e ninguém viu, nem você. Mas está na hora de estancar o sangue,
e é isso que eu vou fazer. Você não tem culpa, eu sei! Mas preciso me
recuperar, você pode entender? Se eu soubesse que aquela paixãozinha boba de príncipe
a primeira vista iria acabar assim, eu teria ficado sem pintar as unhas naquela
tarde de quinta-feira. Se eu soubesse que ia machucar tanto, eu teria ficado em
casa naquela sexta-feira à noite: “podem ir amigas, eu vou ficar bem,
divirtam-se!”. Se eu soubesse que eu ia gostar tanto de você, eu não teria
respondido aquela sua primeira mensagem.
Mas o problema é que você está em todos
os cantos da minha casa e da minha vida. Está nas almofadas que eu abracei
enquanto pensava em você, está no canto da cozinha em que eu chorei escondida
aquela vez, está no meu telhado que eu tanto amo, está no cheiro das minhas
roupas, está até nas minhas cachorras. Está no estranho com cara de marginal
que eu encontro na rua, está naquele senhor de sorriso torto, está naquela moça
que tem uma tatuagem de tartaruga no pulso. E pra piorar, você está até no
escuro que eu vejo ao fechar os olhos. Você sempre está lá.
Mas não vai estar mais. Eu prometo. Vai
demorar. Vai doer. Vai dilacerar. Vai cortar. Vai acabar comigo, mas vai
passar. E isso eu também prometo. Eu fui tão feliz te amando em silêncio por
todo esse tempo, mas eu agora quero poder amar alguém aos gritos, aos escândalos.
Eu mereço. E eu vou amar. Eu sei que vou! Se quiser, use até aquela frase da
Tati Bernardi: “Ele é só um cara e eu já esqueci outros caras antes!”. Olha, já
evolui. Antes não suportava sequer comparar você aos outros. Hoje eu sei que
você vai ser um deles, e eu vou poder ser feliz de novo.
Meu amor, antes de encerrar essa carta
quero te agradecer. Você me mudou mais do que qualquer outra pessoa já foi
capaz de mudar, e você fez isso totalmente sem querer. Espero que eu tenha
mudado alguma coisa nessa rocha ai que você chama de coração, espero que eu
tenha tido pelo menos ¼ da importância que você teve pra mim. Espero que você
se lembre de mim com um sorriso, porque pode ter certeza que é assim que eu vou
me lembrar de você.
Essa não foi a primeira, muito pelo
contrário: houveram inúmeras! Mas essa é a última carta pra você, eu prometo.
- Em Tenebris
Fiquei comovido.
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