30.5.13

Carta de despedida


       Ao contrário do que você e os outros pensam, esse tempo todo eu não me declarei como queria ter me declarado. Não me joguei em teus braços e não pedi que se jogasse nos meus. Por todos esses dias eu me declarei nas palavras que não escrevi, nas frases que não disse, nas demonstrações de afeto que guardei. Tentei ao máximo esconder meus sentimentos e obviamente não consegui. Eu sei que já disse 187,3 vezes que eu iria embora, que eu ia matar esse amor dentro de mim, que tinha acabado, que eu ia partir pra outra, mas dessa vez é de verdade, eu juro!
      Dessa vez é diferente.
      Eu precisava de um sim, ou de um não. De uma motivação pra insistir em você ou de um fato para desistir de você. Pois então, eu pedi, não pedi? E nós devemos ter cuidado com o que desejamos, sei bem disso. Minha resposta chegou. Meu “não” estava ai estampado pra quem quisesse ver, e eu não enxergava. Mas acabou. Eu enfim enxerguei aquilo que há tanto tempo eu fingia que não ver.
      Eu me suicidei um pouco a cada dia de todos esses meses e ninguém viu, nem você. Mas está na hora de estancar o sangue, e é isso que eu vou fazer. Você não tem culpa, eu sei! Mas preciso me recuperar, você pode entender? Se eu soubesse que aquela paixãozinha boba de príncipe a primeira vista iria acabar assim, eu teria ficado sem pintar as unhas naquela tarde de quinta-feira. Se eu soubesse que ia machucar tanto, eu teria ficado em casa naquela sexta-feira à noite: “podem ir amigas, eu vou ficar bem, divirtam-se!”. Se eu soubesse que eu ia gostar tanto de você, eu não teria respondido aquela sua primeira mensagem.
      Mas o problema é que você está em todos os cantos da minha casa e da minha vida. Está nas almofadas que eu abracei enquanto pensava em você, está no canto da cozinha em que eu chorei escondida aquela vez, está no meu telhado que eu tanto amo, está no cheiro das minhas roupas, está até nas minhas cachorras. Está no estranho com cara de marginal que eu encontro na rua, está naquele senhor de sorriso torto, está naquela moça que tem uma tatuagem de tartaruga no pulso. E pra piorar, você está até no escuro que eu vejo ao fechar os olhos. Você sempre está lá.
      Mas não vai estar mais. Eu prometo. Vai demorar. Vai doer. Vai dilacerar. Vai cortar. Vai acabar comigo, mas vai passar. E isso eu também prometo. Eu fui tão feliz te amando em silêncio por todo esse tempo, mas eu agora quero poder amar alguém aos gritos, aos escândalos. Eu mereço. E eu vou amar. Eu sei que vou! Se quiser, use até aquela frase da Tati Bernardi: “Ele é só um cara e eu já esqueci outros caras antes!”. Olha, já evolui. Antes não suportava sequer comparar você aos outros. Hoje eu sei que você vai ser um deles, e eu vou poder ser feliz de novo.
      Meu amor, antes de encerrar essa carta quero te agradecer. Você me mudou mais do que qualquer outra pessoa já foi capaz de mudar, e você fez isso totalmente sem querer. Espero que eu tenha mudado alguma coisa nessa rocha ai que você chama de coração, espero que eu tenha tido pelo menos ¼ da importância que você teve pra mim. Espero que você se lembre de mim com um sorriso, porque pode ter certeza que é assim que eu vou me lembrar de você.
      Essa não foi a primeira, muito pelo contrário: houveram inúmeras! Mas essa é a última carta pra você, eu prometo. 

- Em Tenebris   

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