28.7.15

You can come out and see me


   Hoje deu vontade de escrever para você. Não como antes, mas de forma verdadeira. Hoje eu quis lembrar de tudo do jeito certo, com os olhos certos.
   Lembrar de como você ria da minha cara, me puxava pelo braço e me maltratava sem eu perceber. E eu achava que era amor. Achava que você estava cuidando de mim, desejando meu bem. Lembro quando você foi embora e deixou tudo para trás. Eu, nossa casa, nossas coisas, nosso nós. E eu tive que me reconstruir. Arrumar as malas bagunçadas, tirar as meias do chão, jogar fora teus restos e lembrar como é ficar sozinha.
   Eu tive que começar do zero, enquanto você seguia em frente sem olhar para trás.
   Precisei enfrentar o frio, a chuva, as flores murchando e o mundo girando cada vez mais rápido, sorrindo e dizendo que estava tudo bem. Tive que aceitar o não que eu sempre tive, mas me recusava a enxergar.
   Tive que te ver de braços dados com outra, rindo e brincando de forma que você, nem nos meus melhores e mais profundos sonhos, soube fazer comigo. Tive que caminhar sozinha, numa trilha longa e tortuosa, repleta de fotos nossas rasgadas pelo chão, noites sem dormir e queixos batendo, no rigoroso inverno que entrava pela janela, e corpo nenhum para me esquentar.
   E eu ainda amava você. Achava que sim.
   Eu acreditava que o que tínhamos não podia ser outra coisa, que não amor.
   Sorte a minha ter conhecido alguém para me arrastar de tudo aquilo. Me tirar das noites afundadas em bebidas caras e garrafas vazias, lábios desconhecidos e corpos sujos. Cigarros que queimavam meus dedos, olheiras mais fundas que as profundezas em que acharam o Titanic e coração fechado para quem quer que fosse.
   Que sorte a minha.
   Quem diria que aquele mar escuro e tortuoso viraria rio limpo e passageiro... Aconchegante, com toque, pernas entrelaçadas, risos soltos, abraço com cara de abrigo.
   Eu estava por um fio. E então, virei novelo. Virei tricot, virei plural. Entendi que o que tínhamos era feio, pobre, frio. Falso. E que você não era, nem nunca foi, quem eu achei que fosse. Você não era o amor da minha vida. Não era o único, nem o último, graças a deus.

- Purgare






2 comentários:

  1. Ai que texto lindo, me identifiquei muito pq já passei por coisas parecidas.

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  2. Fiquei apaixonada pelo texto. Muito bom!
    beijos
    http://vivendomodaa.blogspot.com.br/

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