24.7.14

Pourtant quelqu'un m'a dit que tu m'aimais encore


    Você sabe que eu odeio tua pirraça e por isso abusa tanto dela. Sabe que eu detesto quando você fala grosso e me deixa reclamando sozinha. Que eu não suporto teu perfume com cheiro de zoológico porque ele faz com que eu me sinta engolida por um gorila toda vez que você me abraça. Que tua mordida me deixa roxa por semanas e que eu não gosto quando você encosta demais no meu pescoço.
    Você sabe que eu detesto tuas amigas e quando elas comentam nossas fotos. Odeio também quando você não curte as minhas e vem reclamar que minhas roupas estão muito curtas. Tenho raiva quando você me faz esperar e quando vem em casa me pedir desculpa todas as vezes que a gente briga. Você podia simplesmente parar de brigar comigo. Ia te poupar muita caminhada.
     Odeio quando você não vai às festas comigo e odeio mais ainda quando você vai em festas sem mim. Odeio quando me liga bêbado e odeio não conseguir não te atender simplesmente. Odeio tuas meias no meio da canela e odeio quando você usa chinelo. Nunca gostei dos teus pés. Ou das tuas pernas. Ou de você inteiro.
     Detesto, na verdade.
     Cada parte de você.
     Teu cabelo que nunca está bagunçado e tua força sobrenatural, que me tira do chão com um braço só e me joga no sofá sem qualquer esforço. Teu sorriso tímido e seu jeito de rir. Às vezes você respira rápido demais e às vezes parece que nem respira. Odeio quando você faz isso. Sempre acho que vai morrer ali, bem na minha frente.
    Odeio quando você fica perto demais de mim, tanto que parece que vai me esmagar. Odeio quando você passa teus braços em meu pescoço e não me deixa sair de perto. Odeio quando você fica longe por muito tempo, some, faz merda e volta como se nada tivesse acontecido.
    Odeio seu jeito de lidar comigo. Odeio quando você é chato e odeio mais ainda quando você vem cheio de amor. Detesto quando você não entende minhas entrelinhas e foge fingindo que não me ouviu... E você sempre faz isso: sempre finge não entender o tudo que eu vivo te dizendo, o nosso tudo. Que tuas mãos se encaixam perfeitamente nas minhas quando eu tenho medo, que o tremor das tuas costas me faz dormir melhor e que teus beijos de despedida doem no fundo do meu corpo, como se tirassem o melhor de mim e levassem consigo. Mas eu não me importo mais.
    Estou acostumada com tuas idas e vindas, com teus esporros, com tuas frases curtas e tua falta de olho no olho, mesmo sabendo o quanto eu gosto disto.
    Você nunca fez questão de nada que eu goste...E, por fim, você nunca fez questão de nós.


- Em Tenebris

3 comentários:

  1. Confesso que entrei aqui por causa do título haha (adoro essa canção)
    Que texto liiiindo. O amor é cheio de ódio mesmo. Saber amar é encontrar paixão em cada coisa que odiamos.
    http://eu-ludmilla.blogspot.com.br/

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  2. Olá, Vitória Dozzo. Acabei de ler seu conto "Carta de Despedida" na antologia Amor nas Entrelinhas. Gostei muito da sua escrita. Uma jovem talentosa. Parabéns.

    Ah, tenho um blog também
    http://voucontarmaisuma.blogspot.com/

    Abraços literários...
    P.S. Seu conto tem alguma influência da vida real?

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