27.6.14

Azulejos


   Zé, hoje descobri porque eu e ele nunca demos certo.
   Não foi porque ele usava aquelas meias xadrez ou comia toda a borda da pizza. Nem porque me mandava mensagens ansiosas e inseguras todos os dias. Foi por causa do banheiro dele, Zé.
   Não! Não era sujo ou fedido, pelo contrário: era limpíssimo, mais do que o seu jamais foi. O problema eram os azulejos... Eles eram da cor exata dos teus olhos, Zé. Toda vez que eu entrava lá deparava-me com uma parede repleta de olhos teus... Justo eles que sempre foram a minha maior fraqueza.
   Isto me entristeceu, sabe? Tudo estava bem e parecia que minha vida ia enfim largar o rumo da tua. Fazia tempo que sequer me lembrava de ti e mal abria nossa conversa no whatsapp. Mas eu sempre soube que teus olhos azuis seriam a razão da minha ruína. De alguma forma, em algum momento, isto iria acontecer e o romance que eu acreditei que salvaria minha vida acabou por causa dos teus malditos olhos cor do céu.
   E cor dos azulejos dele.
   Zé, voltei à estaca zero. Não aguentei um mês te encarando naquele banheiro e não usá-lo simplesmente não era uma opção. Afinal, aqueles azulejos me passavam tranquilidade quando o outro me irritava com sua mania de elogiar absolutamente tudo o que eu fazia. Certa vez tranquei-me no banheiro por meia hora e fiquei ali, encarando teus olhos e torcendo para que você estivesse do outro lado da porta quando eu saísse.
   E aquela foi a minha última noite com ele.
   Deixei o banheiro com despedidas curtas e nunca mais retornei ou atendi suas ligações.
   Hoje, Zé, estou deitada em minha cama, encarando as estrelas do teto que você costumava odiar e me perguntando onde esta saudade de você vai me levar. Hoje foram os azulejos, no outro mês foi a risada e no antes deste a mania de estrelar os dedos. Qual será o próximo?
   Me diga, Zé. Por favor, olhe em meus olhos e me responda, sem titubear ou me encher de enrolações, me responda: quantos caras mais eu vou deixar por terem algo que me lembra você?

- Em Tenebris

4 comentários:

  1. Adorei! Você escreve muito bem. Lembrei-me dos textos da Tati Bernadi *-* Escrita bem parecida com a dela.
    O amor é assim mesmo, estamos sempre a comparar o antigo com o novo :(
    http://eu-ludmilla.blogspot.com.br/

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  2. O.O
    Me impressionei com o seu texto. Você escreve muito bem e de uma maneira bem fluída e leve do jeitinho que eu gosto.
    Beijos, Carlos.

    http://blogchuvadeletras.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Fico feliz que tenha gostado! Passe por aqui mais vezes.
      Beijos!

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