13.12.12

Inexorável


     Filho da puta. Descarado. Mentiroso, mal amado e infeliz! Disse que me amava. E repetiu. Três vezes! Não mereço tamanha façanha. Fui grossa tantas vezes, o xinguei, desprezei. Fingi que não ligava, que não tinha ouvido. E o que ganho em troca? Aquelas três palavras que faria com que qualquer mulher abrisse as pernas! “Eu te amo” ele sussurrou diversas vezes e eu incrédula. Estava tão acostumada a sofrer, ser jogada na rua e agora me vem um qualquer, se achando porque tem cabelo bom, fazendo declarações e falando que me ama? Como se fosse fácil, como se fosse me levar pra cama. E levou. Otária, otária! Fui usada, novamente. Mas não parece.
      Ele incrivelmente desligou o celular para aquele amigo do time de futebol não fazer nenhum convite inesperado, para que a avó não o chamasse para comer aquele frango assado que ele tanto gosta, para sua irmã não ligar pedindo que o levasse na casa da colega. Sofri. Pus os pulsos nos olhos e chorei! Cerrei cílios, escorri doze litros de água, procurei respostas, tentei entender o motivo. E antes que se perguntem, não foi uma hora só! Foram todas as vezes. Me via e desligava o aparelho. Jogava o pobre na mochila, socava no bolso ou sequer ignorava todas as chamadas. Dizia que minha voz era mais alta que qualquer toque de celular, e o dele era muito estridente. Qualquer cidadão que estivesse do outro lado da rua escutaria, e eu que sempre falo tão baixo… “Mergulho em teus olhos garota, a sensação é melhor do que maconha”. Ele tinha até largado o cigarro, parado de beber…
      Não andava mais com a erva e sequer lembrava dela. Me ligava todo dia as 2:59 da manhã. Dizia eu te amo e desligava. Ou então apenas dizia que estava sem sono e que queria escutar minha voz. Eu que sempre fui tão forte, me apaixonei pelos mais insuportaveis e arrogantes, tinha tesão por cara macho! E então, esse magrelo alto, de cabelo escuro, sorriso leve e cara de bebê tinha me amarrado. É isso mesmo? Ele era tão errado quando o conheci, e então virou este menininha. E por algum motivo ainda não aparente, eu estava gostando.
      Acordava cantando e nunca mais abri um pote de sorvete para comer direto com colher! Minha barriga doia quando ele não ligava, e toda vez que sim, se desculpava trocentas vezes pelo atraso! Dizia claramente que sentia falta dos meus beijos e que precisava do meu corpo no dele. Era uma paixão meio feroz, atravessávamos as ruas com beijos quentes e qualquer lugar era o lugar – se é que me entende. Apesar de toda a melação, dele beijar meus machucados e assoprar meus olhos para tirar ciscos, eu estava amarrada.        Não olhava para nenhum sarado que corria no leblon, ignorava as cantadas e piscadelas. Passava o dia olhando para o celular, esperando dar o horário de ir para o trabalho e sentar em seu colo para ver o tempo passar. Gostava de ficar em silêncio ao lado dele, e de terminar de ler livros tristes de madrugada, para que ele acordasse com meus soluços de emoção e me confortasse como se fosse o mocinho da trama. Gostava que me chamasse pelo nome das minhas personagens preferidas e eu o chamava pelo nome daquele vilão sedutor pelo qual todas as garotas sempre se apaixonavam. E eu, que sempre fui tão chata, tão nojenta, não merecia um amor assim. Merecia?
     Devia ser um plano dos homens, me dar um perfeito, para que eu me apaixonasse irrevogavelmente e nunca mais me livrasse dessa paixão, para que na hora certa ele me abandonasse, fugisse com outra e me deixasse na solidão de meus livros e meus cadernos. Para que eu o pusesse em literatura para tentar esquecê-lo e que no fundo sempre esperasse ansiosamente na varanda pelo dia que ele fosse voltar. Mas nunca voltaria e eu morreria triste e sozinha. Mas não. Confesso que me armei, tentei não me apaixonar e esperei pelo momento em que ele fosse partir, mas esse momento nunca chegou.
     Um, dois, três anos se passaram e ele continuava do meu lado, dizendo que eu estava linda mesmo quando estava com a maquiagem borrada, shorts largo, moletom e o cabelo batendo no teto. Dizia que o por do sol não era tão lindo quanto meu sorriso e que nunca ninguém o daria essa sensação… E desse jeito ele foi me ganhando… E ganhou. E me tem, me possui e sou dele. E ele meu, e somos nossos… E logo teremos pequenos “nós” que correrão pela casa com pantufas do bob-esponja, nos chamarão de papai e mamãe e vão nos amar tão infinitamente, tanto ou quanto nos amamos e vamos continuar nos amando…

  - Em Purgare. 






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