17.1.13

Bundles of flowers


Há tempos não fazia isso; não ficava quietinha deitada na rede olhando para as estrelas enquanto ouvia meus  pais conversarem. Eles falavam sobre amenidades, comida, televisão, dinheiro, deus. As vezes alteravam a voz mas no final sempre acabavam rindo. Lembro que desde pequena eu tinha uma insistência enorme em acreditar no amor... Talvez fosse por causa deles. O amor deles sempre fora tão grande e tão forte apesar de todas as tempestades, que eu cresci desejando ter um desses pra mim.

Hoje, no meio de uma das melhores, e ao mesmo tempo piores, épocas da minha vida descobri que o amor não se basta sozinho. Só amor não funciona. É preciso respeito, compreensão, diálogo (muito diálogo), e até mesmo, diferenças. Amor igual não sustenta ninguém. Ninguém ama aquele que é exatamente igual a você. O amor busca a diferença; o amor é fortalecido pelas diferenças.

Meu pai é estourado. Oito ou oitenta sempre. Não tem papas na língua, é enérgico, divertido, de personalidade forte e de extrema carência. Minha mãe é quieta. Prefere estar sozinha, lendo um livro ou assistindo um filme, do que em lugares lotados. Sabe tudo sobre qualquer coisa, detesta grude, gosta de se superar e é até um pouco tímida. As vezes os assisto em silêncio, me perguntando quais são os motivos que os manteram juntos por todos esses 27 anos. Talvez se meu pai não contasse piadas tão boas e minha mãe não cozinhasse tão bem eles já teriam se separado há uns 17 anos atrás.    

Sempre admirei muito a verdade que eles passam um para o outro. Minha mãe, do jeito dela, vive dizendo que ama meu pai. Fazendo sua salada preferida nos almoços de quarta-feira, o chamando para jantar, usando saltos e vestidos floridos, do jeito que ele gosta. Ela costuma dizer com os olhos que o ama também, já aprendi a decifrar. Cansei de vê-los discutindo e ela desistindo de brigar, com um suspiro fundo e punhos cerrados, mas com os olhos repletos de amor. Meu pai é diferente. É um romântico nato, daqueles que dá presentes, flores, a enche de beijos e vive dizendo que a ama. Mas a maior prova de amor que ele faz por ela, é assistir filmes românticos ou ir as vezes no cinema - coisa que ele odeia - sem reclamar. 

Eles estão tão longe de serem perfeitos um para o outro... Tem gostos totalmente diferentes, ele só escuta samba e mpb, quando ela não desiste do bom e velho rock antigo. Personalidades que não batem direito, pensamentos distintos. Mas isso nunca foi um problema, pelo menos, eu acho que não. Acredito que é isso que os mantém juntos há tanto tempo e volto a afirmar que o amor é feito disso: de sólidas diferenças. Mas quem sou eu para falar de amor? Não tenho dezesseis anos e nunca amei ninguém... Só tenho uma esperança muito, mas muito grande, de um dia conseguir conhecer alguém tão bem quanto minha mãe conhece meu pai, e ser tão amada quanto meu pai ama minha mãe. 

- Em Purgare.  

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