Eu estava boiando metros de distância da areia quando tudo aconteceu. Havia uma garotinha loira dos olhos escuros um pouco longe de mim, que batia os bracinhos contra a água funda com dificuldade. Ela sorria, apesar de mal conseguir manter a cabeça fora d'água. Só havia eu e ela naquela profundidade e, confesso que, temi por sua vida quando constatei que ela devia ter no máximo sete anos e seus pés mal tocavam o solo. Fechei os olhos e tentei me manter concentrada nas ondas fracas que se formavam entre nós, quando ouvi seus gritos abafados pela água do mar. Gritei por socorro e nadei com velocidade até ela, a puxei do fundo pelos braços quando ela já estava se entregando.
Tumulto na praia ao perceberem o que acontecia. Alguns homens que estavam mais perto do raso nadaram até nós enquanto gritavam por socorro junto comigo. Logo em seguida um salva-vidas chegou, a pequena menina se contorcia em meus braços e fazia força para respirar. Seus olhinhos cansados fitavam os meus como quem implora por ajuda, e eu sussurrava baixinho: "vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem...". O salva-vidas a tirou de meus braços e nadou com ela até a orla, pessoas se levantavam de suas cadeiras para ver o que acontecia, enquanto eu tremia e segurava as lágrimas cansadas.
Uma mulher alta com os mesmos olhos da pequena, correu entre a multidão empurrando qualquer um que estivesse em sua frente, e logo caiu no centro do circulo formado pelas pessoas, aos prantos. Ela chorava desesperadamente e apertava as mãos na areia, enquanto uma senhora tentava lhe acalmar e a tirar dali. Ajoelhei-me ao lado da menina e segurei sua mão fria enquanto o salva-vidas tentava salva-la. Cada vez mais curiosos se aproximavam, os lábios roxos dela ainda tremiam e seu peito inchava e desinchava com fraqueza.
Os urros de sua mãe ecoavam entre as pessoas, todas preocupadas e querendo ajudar. O salva-vidas enfim tranquilizou os joelhos e olhou-me com um rosto triste. Meu coração se apertou naquele segundo e prendi o ar dentro de meus pulmões. A pobre menina já não respirava mais. Virei-me para ver sua mãe, que se contorcia na areia e gritava, enquanto homens que ali estavam tentavam carregá-la, e eu enfim, soltei as lágrimas que estava prendendo.
A praia inteira mergulhou num fúnebre silencio. Só se podia ouvir, mesmo que de longe, os gritos da mãe. Ela havia morrido ali, junto com sua filha, tenho certeza. Foi tão rápido que eu ainda podia ver os olhinhos da menina suplicando por mim. Ela podia ter sido salva. Por mim. Fracassei. O silêncio era doloroso, mas ainda conseguíamos ouvir o barulho das ondas se quebrando no mar e vindo beijar a areia, como se nada tivesse acontecido. E era praticamente assim. Afinal, quem somos nós perante esse universo?
- Em Tenebris.
Nenhum comentário:
Postar um comentário