17.2.13

Looking up from underneath


     Acordei cedo - ou nem dormi, não sei -, tomei café e terminei de ler aquele livro do qual tinha lhe falado. Tirei o esmalte, lavei o pijama e fui arrumar meu quarto. Comecei pelas caixas brancas e grandes, sim, aquelas que eu guardava nossas cartas. Guardava. Passado. Joguei tudo fora, coloquei flores no lugar, para que elas morram ali dentro, como todos os meus sentimentos que também morreram ali; junto com as cartas.
    Pintei as paredes que costumavam ser estampadas com nossas fotos e frases. Coloquei luzes de natal e fotos minhas. Desapego. Troquei os cadarços pretos do meu all star branco, justamente porque você os elogiou antes de ir embora para sempre. Com a gente. Os joguei fora também. Meu vestido azul está guardado na ultima gaveta do guarda-roupas e espero mantê-lo ali por pelo menos seis meses. Quero que perca teu cheiro. Abri uma nova caixa de sentimentos, nela coloquei teus cigarros, o alargador que me deu, sua camisa que me servia de pijama e as fotos que estavam nas paredes. Escondi-a em baixo da cama, atrás do travesseiro de Roberto, onde eu costumava esconder tuas bebidas. Agora não há mais espaço para elas, me desculpe.
   Tirei os anéis de meus dedos, tirei as pulseiras e o brinco dourado que me deu no meu aniversário. Os coloquei junto do vestido, na ultima gaveta. Talvez eu possa chamá-la de você, pois também te coloquei la dentro. Arrumei a gaveta de meias e voltei a guardar os pares juntos. Nada de meias trocadas novamente. Tanto faz, não seriam tão engraçadas quanto usá-las com você. A propósito, chega de insônia também. Já comprei três vidros de dramin, maconha e muito café. Passar a noite acordada sem você também não vai ser tão legal. Tudo bem, eu estou bem. Ou pelo menos, vou ficar.
    Por fim, deitei-me na cama e olhei para as estrelas coladas no teto. Você sempre as detestou, por isso elas ficam. Sorri, cansada. E chorei. Cansada também. Pensei na noite passada e de como sua barba estava insuportavelmente grande. Eu sabia que seria nosso fim assim que você entrou pela porta; você sabia que eu odiava sua barba. Mas sempre a aceitei, afinal, foda-se. Era sua. E eu costumava gostar de tudo que era seu. Pena que você nunca entendeu isso, e quando entendeu, foi embora.  
    Tudo bem. Mas saiba, não vou estar aqui quando você voltar. Talvez o vestido azul e os anéis estejam, mas eu não. Morri ontem, junto com o "nós". Mas vou nascer de novo. Agora. É isso. Fim. 
     Fim? Não. É só o começo. 

- Em Purgare.  

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