5.5.13

How it used to be



     Você se lembra do Tägger? É, ele mesmo. Aquele ursinho de pelúcia branco que usava uma camiseta rosa de listras. Ele ficava em cima da cama ao lado dos outros, lembra? Isso. Claro que você não iria esquecer! Pois bem, eu havia esquecido. Há muito, mais precisamente um mês ou dois depois de você ter ido embora, não o via. Lembro-me de tê-lo guardado em uma caixa e a colocado na ultima prateleira do guarda-roupa, bem no fundo. Fiquei anos sem vê-lo, mal lembrava que ele existia. Até hoje à tarde. Tirei tudo do armário, limpei canto por canto e abri caixa por caixa... Inclusive a em que ele estava guardado.
    Abri o lacre que tinha feito e ali estava ele, risonho, olhando pra mim. Como quem diz “até que enfim lembrou-se de mim, mamãe”. Fiquei tão feliz por tê-lo encontrado... Mas muito triste por todos aqueles momentos que vieram à tona e eu havia trancado na caixa junto com ele. Como se tivessem acontecido ontem, as lembranças pularam em meu colo e acariciaram meu rosto, que naquela altura já estava tomado pelas lágrimas.
    A primeira coisa de que me lembrei foi do dia em que o nomeei. Ele estava triste e sem identidade há alguns dias, e como você sabe, eu preciso dar nome a todas as minhas pelúcias para poder dormir em paz. Você havia aparecido na minha vida há uns dois meses e já tinha mostrado que tinha chego pra ficar... Ou quase. Nada mais do que justo nomear o ursinho com o seu apelido, e assim foi. O pobre urso passou por muitos momentos tristes e felizes, assim como eu passei. Ele assistiu nossas brigas, reconciliações, declarações e todas as outras coisas que você tão bem conhece. Ele foi meu ombro amigo todas as vezes que você me fez chorar, e também foi o fiel escudeiro que escutou todas as palavras bonitas que eu costumava gastar com você.
    Ele foi tudo e um pouco mais pra mim. Igual você. Ele foi tudo que restou de nós. Ao contrário das conversas que foram deletadas, as cartas rasgadas, as fotos queimadas e os presentes despedaçados, eu simplesmente não consegui desfazer-me de algo que me deu tanto carinho por tanto tempo. Ele foi a minha prova física de que você foi real. Mas você foi embora e ele ficou, e cá entre nós, eu não ligaria se tivesse sido o contrário. 

- Em Purgare   



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