20.8.13

It will, finally, turn to dust


      Duzentos e trinta e sete metros do chão, vento forte, cabelos soltos, punhos cerrados, olhos fechados. Pele suada e trêmula pressionada contra a única corda que ainda me mantinha segura.
      Não era uma das minhas melhores idéias, não mesmo.
      Minhas canelas nuas tremiam tanto que tive medo de desmaiar, meu cabelo atrapalhava minha visão e eu tentava ajustar o cinto que prendia minha cintura em uma grande corda de ferro. Eu precisava arrancar a casca de tristeza que ainda habitava meu coração, e só seria dessa forma que eu conseguiria.
      Eu tinha 10 segundos para fazer o que queria.
      Dez segundos seria tempo suficiente.
      “Muita coisa pode acontecer em dez segundos”, pensei. Olhei para baixo, respirei fundo três vezes, olhei para trás, e como se possível consegui ver o sorriso dele se abrindo, dizendo: “vai, vai ser melhor”. Minhas mãos já tremiam o suficiente para que eu desistisse, enquanto todas as vozes da minha cabeça gritavam para que eu não estragasse tudo agora, justo agora. “Eu tenho que por um fim nisso”, gritei mentalmente.
      Um homem alto e forte atrás de mim avisou que eu não podia perder tempo. “Vamos, anda, tem mais gente na fila. Lembre-se de abrir os braços, é mais fácil”, ele estendia a corda pela plataforma e iniciava uma contagem regressiva. “Está pronta?” ele gritou. “Estou!” respondi, não muito certa do que estava dizendo.
      Cinco.
      Quatro.
      Três.
      Dois.
      Um.

Era hora. 

      Dei dois passos para trás e sai correndo em direção o mar, assim como o instrutor havia dito. O vento tomou conta do meu corpo, eu sorria involuntariamente. Era como voar. “Dez segundos”, pensei. A queda parecia não ter fim, o mar não chegava nunca. Abri os braços em sinal de liberdade, fechei os olhos, senti a brisa e pensei em todas as lágrimas que havia derramado por ele. Por todas as vezes que não dormi, que senti ciúmes, que me torturei, que deixei de sair, que perdi chances... Devia ter mais um segundo até a corda se livrar do meu pé e meu corpo chocar-se contra a água, e era nesse segundo que eu faria o que sempre quis: me libertaria de um ano de tanta tristeza.
     Abri os olhos, imaginei ele ao meu lado, e o deixei partir, enquanto eu mergulhava de cabeça – literalmente – em uma nova vida.
     E era verdade quando diziam que só não era feliz quem não queria.

- Em Purgare  



Um comentário:

  1. Vitória, adorei o texto! Tá super bem escrito, quase senti essa liberdade!

    E finalmente consegui comentar por aqui! \o/

    Já estou seguindo ;)
    Beijinhos!

    www.ummetroemeiodelivros.com

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