6.6.14

Não é mais cedo



   Hoje eu me lembrei dele. Sem rancor, saudade, raiva ou tristeza. Sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, enfim, o tempo passou. Não o vejo há meses, quase um ano. Desde nossa última briga e do final cheio de gritos e palavras feias. Não sei como está seu cabelo, suas roupas, suas mãos que eu tanto gostava, seu sorriso que me tirava o sono. Não sei se está bem, se está namorando, se está mal, se está vivo. Ele desapareceu da minha vida, assim como eu desapareci da vida dele.
    Se eu dissesse que um dia acreditei que duraríamos pra sempre estaria mentindo. Desde o primeiro beijo eu soube que não duraríamos mais de três meses. Ele era hiperativo demais, rápido demais, louco demais. Mas era engraçado insistir no que eu sabia que não ia dar certo. Era divertido, excitante. É egoísta da minha parte, confesso e reconheço, mas não passa da verdade.
    Eu nunca quis nada com nada. Não com ninguém, mas com ele em especial. Tinha defeitos demais, manias demais, diferenças demais e eu não estava disposta à me adaptar.
    Nunca estive.
    Admito que fiz o que queria dele. De certa forma precisava sair por cima de alguma história alguma vez. Estava tão cheia de me arrastar atrás dos outros e mendigar por amor que queria pelo menos uma vez estar do outro lado. Queria fazer sentir o que já haviam me feito sentir antes e hoje sei que não me arrependo. Em um caleidoscópio de memórias me lembro de tudo o que passou... Confesso que me esqueci de muitas coisas. Palavras perdidas, sentimentos esquecidos, incertezas e cenas escuras, mas me lembro de algo. Me lembro dos nossos beijos afobados nas ruas escuras, as músicas altas, o cheiro de cigarro que não saía de mim.
    Lembro das juras infinitas, das promessas, das vontades. Mas também lembro da dor. Da prisão em que me trancaram por dez dias e os olhos aflitos e arrependidos dele. Ele não sabia que eu estava ali por causa dele, mas cuidava de mim como se soubesse. Como se soubesse segurava minhas mãos, beijava minhas têmporas e dizia que tudo ia ficar bem.
    Nunca mais nos escrevemos; não havia mais o que dizer. Tudo já havia sido dito, mesmo que de forma tão errônea e precipitada. Cheguei a saber por um certo tempo quem ele era de verdade, mas me entristeço ao saber que ele nunca tomou conhecimento de quem eu realmente sou e era. Hoje, se o encontrasse na rua, custaria à reconhecê-lo, mas também não faria questão disso.

- Em Purgare                        

2 comentários:

  1. Oii,
    Texto mais que maravilhoso, emocionante e parece um pouco com uma história minha haha

    Beijos da Edi
    Parte de Minha História

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