20.10.14

Acts like summer and walks like rain


   Ele riu baixinho enquanto eu apagava o cigarro na areia naquela madrugada fria. A música tocava alto e todos os tipos de corpos e cheiros rondavam meus sentidos, provocando minha carne que um dia foi fraca; seus cabelos lisinhos voavam contra o vento e me faziam rir como nunca antes... O mundo exterior já não me importava.
    Eu, de tão famoso coração inquieto e cigano, pela primeira vez em sabe-lá-quanto-tempo respirava tranquila e não conseguia desviar os olhos de alguém. Custava-me acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, e vez ou outra eu até olhava em volta, procurava em outros corpos qualquer mínimo sinal de que meu eu são e consciente ainda era capaz de querer o desconhecido. Mas, infelizmente - ou felizmente -, encontrei-me procurando por ele em todos os outros e, sem sucesso na busca, sorri ao constatar que ela era inútil, afinal, o que eu queria estava bem ali em minha frente, com os cabelos voando, sorriso tímido no rosto e dedos aflitos segurando meus dedos aflitos. E naquele momento eu quis fugir inúmeras vezes.
    Quis fugir porque eu sentia medo por não estar sentindo medo nenhum. Sentia medo por estar em paz e sorridente. Sentia medo por não querer de fato fugir. Sentia medo por querer ficar e ficar e ficar. Sentia medo por estar feliz.
    Eu há tempos estava cansada de barulho e ele é silencio. Silencio rápido e despreocupado. Silencio sem ser silencio, que chegou brisa de inverno e aqueceu como vento quente de verão.
    O mar nos olhava e sussurrava palavras bonitas, e eu o via sorrir porque ele também estava ouvindo o que eu ouvia. O vento empurrava seu cheiro contra meu rosto como se não quisesse que eu o esquecesse por segundo algum, mas mal sabia o vento! O estrago já havia sido feito... E não existia caminho de volta. Mesmo se existisse! Eu não ousaria olhar para trás jamais.
    A urgência que eu senti todas as vezes em que ele tocou minha pele valia mais que qualquer outra coisa, mais que quaisquer outros toques, lábios, cheiros, peles. Na esquina de seu pescoço com o ombro foi onde encontrei meu cheiro preferido. Nas suas mãos encontrei abrigo e seus olhos seriam capazes de afogar-me mais rápido que qualquer um dos oceanos. Eu, sempre tão morta de medo de morrer afogada, hoje não aguentava de vontade de mergulhar e nunca mais emergir.


- Em Purgare

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