14.7.18

Entra pra ver...


    Você chegou tímido, na sua. Olhou pra mim, sorriu e sentou. Abriu a mala, tirou os sapatos, pediu um café. Foi entrando como se a casa fosse sua, agia como se conhecesse todos os cantos e segredos - e eu acho que de fato conhecia.
    As vezes me olhava e ria, chamava pra conversar, massageava meus pés, fingia me conhecer desde os primórdios.
    Fiquei ressabiada, desconfiada e até com medo.
    Eu estava certa e não sabia.
    Decidi abrir-me aos poucos, fraquejei confesso. Por quê? Não sei. Eu não queria saber de visita! Sempre me vangloriei por ser feliz sozinha, nunca gostei de mudanças assim tão drásticas.
    Mas você parecia decidido. Queria ficar, não pretendia mudar de ideia. Tinha trazido pijama, colocado a escova de dente ao lado da minha, tirado os sapatos, desligado o celular, escolhido a janta.
    E nem pediu permissão.
    Mas eu cedi.
    Cedi a você, a mim e a nós.
    Perdi o medo, abri os braços, a alma, o coração. Resolvi dar uma chance, resolvi tentar. Tinha cansado da felicidade solitária, uma vida a dois poderia ser boa. Afinal, por que não? As flores do meu coração desabrocharam e eu nunca mais quis saber da seca.
    A primavera parecia linda olhada daqui.
    Unimos forças, demos laços, jogamos tinta nas paredes, reviramos as gavetas das certezas e substituímos todas elas. Conheci novas coisas, criei novos gostos, cansei da mesmice. Quis ser nova, quis ser outra, quis ser tua.
    Fizemos música, promessas, planos, criamos histórias, demos nomes ao que não conhecíamos. Você me deu novas verdades, lições, ideias, pensamentos, vontades.
    Aprendi a ser eu.
    E tudo parecia tão fácil...
    Parecia.
    Estava tudo fora do lugar e eu não me importava.
    Mas não era nem outono e o inverno já tinha chego. As tempestades voltaram e seu coração se encheu de neve. Você ficou frio, distante. Até que de uma hora pra outra levantou, procurou pelas chaves, deixou a xícara sobre a mesa, calçou os sapatos, ligou o celular, arrumou as malas.
    E com a mesma facilidade que chegou, foi embora.
    Me deixando ali, sozinha, com uma bagunça inteira pra arrumar.


- Em Tenebris

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