28.7.13

Somewhere far along this road she lost her soul


Eu estava seca há semanas. Meses, não sei. Mal me lembrava da sensação de chorar. Era como se depois de anos e anos, a fonte enfim tivesse secado. Eu estava dura e rígida feito pedra e mais fria do que nunca. Do jeito que eu tanto queria, do jeito que eu tanto me esforcei pra ficar. Do jeito que eu tive que conhecer, pra descobrir que eu não queria de verdade.

Descobri do pior jeito que eu tinha quebrado por dentro. Indo atrás daquilo que um dia me matou e ver que hoje, já não era mais relevante assim. As lágrimas que por tanto tempo escorreram queimando meu rosto, hoje sequer ameaçavam aparecer. É triste ser privada da exclusividade do ser-humano e não saber o que pode ter causado isso. Sem amor, sem felicidade, sem tristeza, sem ódio, sem raiva, sem angústia.

Nada me tocava, nem a mais afiada das lâminas conseguiria me atingir como antes. Já não doía mais. Olhar-me no espelho não era mais decepção, não era mais angústia, não era mais tormento. Vê-lo com outra já não me dilacerava como antes, não me corroía, não me fazia querer morrer. Ficar sozinha, não comer, não sair da cama, me afastar daqueles que mais me queriam bem e me aproximar dos que só me faziam mal. Ver fotos antigas, lembrar-me de mortes literais e espirituais, privar-me dos maiores prazeres, cutucar onde mais doía. Brigar com a família, brigar com os amigos, brigar com o mundo, brigar comigo. Nada.

Eu estava unicamente e sinceramente vazia. Eu tive que quase morrer pra perceber que eu era uma morta-viva todo esse tempo. Eu não sabia mais o que era sentir. É irônico que dentre todos os sentimentos, não ter nenhum seja o pior deles.  

- Em Tenebris 

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