Eu estava seca há semanas. Meses, não sei. Mal me lembrava da sensação de chorar. Era como se depois de anos e anos, a fonte enfim tivesse secado. Eu estava dura e rígida feito pedra e mais fria do que nunca. Do jeito que eu tanto queria, do jeito que eu tanto me esforcei pra ficar. Do jeito que eu tive que conhecer, pra descobrir que eu não queria de verdade.
Descobri do pior jeito que eu tinha quebrado
por dentro. Indo atrás daquilo que um dia me matou e ver que hoje, já não era
mais relevante assim. As lágrimas que por tanto tempo escorreram queimando meu
rosto, hoje sequer ameaçavam aparecer. É triste ser privada da exclusividade do
ser-humano e não saber o que pode ter causado isso. Sem amor, sem felicidade,
sem tristeza, sem ódio, sem raiva, sem angústia.
Nada me tocava, nem a mais afiada das lâminas
conseguiria me atingir como antes. Já não doía mais. Olhar-me no espelho não
era mais decepção, não era mais angústia, não era mais tormento. Vê-lo com
outra já não me dilacerava como antes, não me corroía, não me fazia querer
morrer. Ficar sozinha, não comer, não sair da cama, me afastar daqueles que
mais me queriam bem e me aproximar dos que só me faziam mal. Ver fotos antigas,
lembrar-me de mortes literais e espirituais, privar-me dos maiores prazeres, cutucar
onde mais doía. Brigar com a família, brigar com os amigos, brigar com o mundo,
brigar comigo. Nada.
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